Este blog se constitui numa ferramenta de aprendizagem colaborativa dos alunos da disciplina Direito Internacional Público, do Curso de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC, ministrada pelo docente Clodoaldo Silva da Anunciação.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Uma Visão Geral Sobre a África


Entre cinco e seis milhões de anos atrás, após um aquecimento global do clima, a floresta tropical africana foi progressivamente substituída por uma savana mais ou menos arborizada. Essa mudança do meio ambiente foi acompanhada por uma evolução das espécies, dando origem a novos tipos de carnívoros e de onívoros, entre os quais os hominídeos, ancestrais do homem moderno.


Estudos de DNA revelaram que o Homo sapiens sapiens, primeiro homem anatomicamente moderno, nasceu na África de 140.000 a 200.000 anos atrás. Embora ainda permaneçam muitas lacunas sobre sua origem e difusão através do mundo, o Homo sapiens sapiens se impôs cerca de 15.000 anos antes de nossa era como a única espécie do globo e a primeira a colonizar a totalidade do planeta.


O período compreendido entre 1000 e 1500 caracteriza-se pela emergência de Estados em quase todo o continente africano e pela expansão do Islã. Pouco antes de 1500, os Estados africanos subsaarianos estabeleceram os primeiros contatos com os exploradores europeus.


De 1500 a 1800, a história da África é dominada por três processos: a progressão do Islã, o reforço da presença européia e o declínio dos grandes reinos herdados do período medieval e até então florescentes. Com a Idade Moderna, começa para a África uma era conturbada, que dará condições aos europeus, no início do século XIX, de se apossar de quase todo o continente. Entre 1800 e 1880, existiam na África grandes reinos cujos chefes perseguiam a realização de suas ambições territoriais ou religiosas. Na maior parte do continente, os europeus ocupavam apenas algumas pequenas feitorias nas regiões costeiras, mas, já naquela ocasião, o embrião do desenvolvimento econômico e político que caracterizou essa época anunciava uma inevitável partilha em proveito da Europa.


A partilha da África começou na década de 1880 e foi extremamente rápida: trinta anos depois, apenas a Abissínia e a Líbia tinham conservado sua independência. O desmembramento terminou com uma nova partilha das colônias alemãs após a Primeira Guerra Mundial. A partir de 1881, o frenesi expansionista das nações européias provocou, na Ásia e na África, um movimento novo e generalizado de resistência. Em 1917, vários movimentos nacionalistas modernos começavam a emergir nas colônias. Em 1975, a maioria dos Estados africanos estavam emancipados da tutela européia. No conjunto, a descolonização efetuou-se pacificamente, exceto na Argélia e nas colônias portuguesas – Moçambique e Angola.


No momento da independência, a África herda economias fracas e sistemas políticos frágeis. Após 1957, a população e a urbanização tiveram um rápido crescimento. A intensa exploração das terras provocou problemas ecológicos que nos períodos de grande seca - como em 1972-1973 e no início da década de 1980 no Sahel – agravaram a pobreza. A epidemia de AIDS, que aparece no início da década de 1980 e assume proporções assustadoras na África oriental e central, está longe de ser erradicada. Em razão da pobreza de suas economias, os Estados africanos possuem pouco capital, mercados restritos e serviços sociais limitados. A corrupção é freqüentemente endêmica. As elites intelectuais deixaram o continente, aumentando a barreira entre ricos e pobres.


Os Estados africanos são politicamente frágeis. Rivalidades étnicas, religiosas e políticas provocaram guerras civis e de secessão. Numerosos conflitos ainda não estão resolvidos, como o que opõe o Marrocos ao Saara Ocidental. Em Ruanda, o ódio secular entre a maioria hutu e a minoria tutsi resultou em um banho de sangue. Durante o genocídio de 1994, 800.000 ruandenses, em sua maioria tútsis, foram massacrados e outros 2.000.000 deixaram o país. Na Somália, em Uganda, na Libéria e em Serra Leoa, rebeldes perturbam a ordem pública, mantendo um clima de guerrilha que degenera em guerra civil. Após a ascensão da África negra à independência, cristianismo e islamismo ganharam terreno no continente. Vastas regiões da África central, oriental e ocidental tornaram-se centros protestantes. A religião criou tensões suplementares, particularmente na Nigéria e no Sudão, onde rivalidades étnicas e políticas estão concentradas ao longo da linha divisória que separa as comunidades cristã e mulçumana.


Desde a independência, os governos tomaram importantes medidas para estimular a economia, mas, como suas ambições excederam, com freqüência, sua capacidade administrativa, suas tentativas obtiveram um sucesso limitado. Mesmo os projetos que priorizavam o desenvolvimento rural, como o plano Ujamaa, na Tanzânia (1967), fracassaram em grande parte. Vários países, em particular os regimes marxistas etíopes de 1975 a 1991, optaram por programas políticos e econômicos semelhantes aos dos países comunistas.


Os Estados africanos mantiveram-se muito dependentes da exportação de produtos de base, cujos preços mundiais eram determinados muito mais freqüentemente pelos consumidores que pelos produtores. A África não tinha muito peso em uma economia mundial amplamente dominada pelos ocidentais, que lhes forneciam capitais e mercados. Os empréstimos no exterior e a inflação mundial tornaram mais pesado o endividamento do continente africano, a tal ponto que a renda anual de certos países ficou abaixo do custo do serviço de suas dívidas.


Desde sua ascensão à independência, a África permanece vulnerável à ingerência externa. Assim, durante a Guerra Fria, o Oeste e o Leste buscaram aliados nas regiões estratégicas da África, sobretudo na extremidade oriental do continente. Após o fim da União Soviética, a África perdeu sua importância no tabuleiro da geopolítica mundial. No fim da década de 1980, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional atacaram a dívida africana: os dirigentes africanos foram forçados a adotar estratégias econômicas capitalistas, a abandonar o sistema de partido único e a organizar eleições. Essa nova ordem trouxe várias mudanças em toda a África negra.


Texto extraído de: Atlas de história mundial / [tradução, Ana Valeria Martins Lessa... et. al.]. – Rio de Janeiro : Reader’s Digest Brasil, 2001.

Nenhum comentário:

Postar um comentário