Mais um acusado pelo genocídio em Ruanda foi preso.
Seu nome é Gregoire Ndahimana. É suspeito de ter comandado pessoalmente a demolição de uma igreja em que se escondiam 2.000 pessoas da etnia tutsi, a principal vítima dos massacres de 15 anos atrás.
Sua prisão é importante, mas mais revelador ainda é o fato de que foi capturado no vizinho Congo, onde buscou santuário. Havia se misturado a um grupo de rebeldes chamado FDLR (Forças Democráticas de Libertação de Ruanda). É importante por uma série de razões: primeiro, comprova que é ali que se encontram alguns dos últimos genocidas procurados. Por vários anos, tentou-se difundir o mito de que esses acusados estavam mortos ou de que era inútil caçá-los como são caçados os nazistas responsáveis pelo holocausto. Ndahimana é a prova de que é preciso continuar procurando.
Em segundo lugar, é uma boa notícia também porque demonstra um grau de cooperação entre Ruanda e Congo que estava faltando. Os dois países viviam em estado de tensão permanente até o ano passado, com os ruandeses acusando os congoleses de dar abrigo aos fugitivos dos massacres de 1994. Essa proteção, por sua vez, era o pretexto perfeito para que o Exército de Ruanda invadisse o vizinho de tempos em tempos, aterrorizando a população civil e aproveitando para fazer umas “comprinhas” no caminho (como roubar ouro e diamante). No ano passado, os dois governos, sob a supervisão da ONU, fecharam um acordo de cooperação militar e passar juntos a procurar por genocidas.
Ndahimana é mais um dos que têm as mãos sujas pela matança de quase 1 milhão de pessoas em Ruanda, um dos grandes genocídios do século 20. Seguirá agora para Arusha, na Tanzânia, para ser julgado pelo Tribunal Internacional patrocinado pelas Nações Unidas.
O tribunal está na fase final, e sofre crescente pressão para encerrar seus trabalhos. Completou 45 julgamentos, inclusive condenando o mentor e principal organizador do genocídio, Théoneste Bagosora, um ex-oficial do Ministério da Defesa. Também foram condenados um ex-primeiro-ministro e ex-ministros. Faltam ainda cerca de 40 casos para serem julgados, o que deve ocorrer até o final do ano que vem.
Mas a pressa não se justifica. Os países doadores deveriam ter um pouco mais de paciência. O tribunal de Ruanda é um sucesso, um raro sucesso no campo da justiça internacional.
E ainda faltam suspeitos para serem presos. Um dos maiores financiadores do genocídio, um empresário chamado Felicien Kabuga, vive no Quênia, escondido das autoridades e provavelmente protegido por uma rede de informantes e seguranças. Seus bens foram congelados no ano passado, mas ele não dá sinais de se entregar.
Enquanto ele não for preso e julgado, é impossível fingir que a página do genocídio está virada. Se Ndahimana foi capturado, Kabuga também pode ser.
Escrito por Fábio Zanini
Este blog se constitui numa ferramenta de aprendizagem colaborativa dos alunos da disciplina Direito Internacional Público, do Curso de Direito da Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC, ministrada pelo docente Clodoaldo Silva da Anunciação.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
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Boa noite pessoal.. Estou acompanhando o blog.. Vão em frente...
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